Crer é também pensar

Porque dou testemunho a favor deles de que têm zelo por Deus, porém não com entendimento.

Romanos 10.2.

Essas palavras do apóstolo Paulo podem muito bem ser ditas a respeito dos crentes de hoje. Há um crescente anti-intelectualismo em nossas igrejas. Ninguém deseja um cristianismo frio, meramente intelectual e sem vida. Mas será que devemos evitar o intelectualismo completamente?

Notamos, sobre tudo nos círculos carismáticos, a experiência subjetiva sendo colocada acima da verdade revelada da Escritura. Não há lugar para a razão e o intelecto. John Stott entendia que o anti-intelectualismo no meio cristão é uma válvula de escape para fugir à responsabilidade, dada por Deus, do uso cristão de nossas mentes. Não devemos ignorar nossas experiências, mas também não devemos negligenciar o intelectualismo. Veremos a seguir qual é o papel da mente na vida cristã.

Por que devemos usar nossas mentes?

1. Fomos criados para pensar. O que diferencia o homem do resto da criação é o fato de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus. Uma das características dessa imagem e semelhança é a capacidade de pensar e de ter entendimento. Por isso, ao recusar-se agir racionalmente, o homem está assim se contradizendo e contradizendo sua diferenciação do resto da criação.

2. O cristianismo é uma religião revelada. Um dos fatos simples e gloriosos é que Deus se revelou ao homem. Isso demonstra a importância de nossas mentes, pois toda a revelação de Deus é racional, tanto a revelação especial na natureza como a revelação especial nas Escrituras e em Cristo. Deus se revelou por meio de palavras às mentes humanas. Sua revelação é uma revelação racional a criaturas racionais. Nosso dever então é receber sua mensagem, submetermo-nos à ela, esforçarmo-nos por compreendê-la e relacionarmo-la com o mundo em que vivemos.

3. Seremos julgados por nosso conhecimento. Um ponto é bastante claro no ensino bíblico quanto ao juízo: Deus nos julgará pelo nosso conhecimento e pela nossa atitude em resposta (ou falta desta) à sua revelação.


A conclusão a qual podemos chegar é que subestimar nossas mentes é soterrar doutrinas cristãs fundamentais. Deus nos criou seres racionais; seria certo negar a humanidade que ele nos deu? Deus se comunicou conosco; não procuraremos compreender suas palavras? Deus nos julgará por sua palavra; não seremos prudentes, edificando nossa casa sobre essa rocha?

Contudo, afirmar a necessidade da razão para compreendermos as coisas de Deus não usurpa o papel da iluminação do Espírito Santo. O que o Espírito Santo faz no novo nascimento não é transformar a pessoa num cristão sem dar atenção à evidência, mas, pelo contrário, é dissipar a névoa de seus olhos, de forma que possa ver e responder à evidência. O Evangelho é dirigido à pessoa toda: mente, coração e vontade, e a leva a depositar sua confiança no Espírito Santo do começo ao fim.


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