Bases da Fé Cristã: O que é Eleição? (Calvinismo)

Uma doutrina que, com certeza, causa muita controvérsia no meio cristão é a doutrina da eleição (também chamada de predestinação). Os dois pontos de vista evangélicos ortodoxos, a saber, o calvinismo e o arminianismo, não negam a eleição, visto que é um ensinamento bíblico, contudo, divergem na questão do que ela seja e como ocorre. O que se segue caminhará na linha teológica de Grudem (calvinista), porém, para ser justo com meus leitores arminianos, o próximo artigo desta série abordará a eleição no arminianismo.

Grudem define a eleição como “o ato de Deus antes da criação, na qual ele escolhe algumas pessoas para serem salvas, não por causa de qualquer mérito delas, mas apenas por causa de seu soberano e bom deleite”. Definida dessa forma, ela pode parecer uma doutrina injusta, porém, é importante analisarmos de onde essa definição procede na visão calvinista.

Ensinamentos sobre a eleição do NT

Muitas passagens no NT parecem afirmar claramente que Deus escolheu de antemão aqueles que seriam salvos. Quando Paulo e Barnabé pregaram aos gentios de Antioquia da Pisídia, Lucas registra que “os gentios, ouvindo isto, se alegravam e glorificavam a palavra do Senhor. E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna.” (At 13.48)

Posteriormente, Paulo expressa em Efésios 1.4-6:

Antes da fundação do mundo, Deus nos escolheu, nele, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele. Em amor nos predestinou para ele, para sermos adotados como seus filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o propósito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado.

Deus nos salvou e chamou para si não por nossa bondade, mas por causa de seu propósito e da graça imerecida na eternidade passada. A visão de João em Apocalipse diz que a salvação individual foi determinada “desde a fundação do mundo” (Ap 17.8).

O que isso significa

Os autores do NT apresentam a doutrina da eleição como um consolo para todos aqueles que creem em Jesus (Rm 8.28-30). De eternidade em eternidade Deus tem atuado para o bem de seu povo em mente. A eleição é, assim, a causa de conforto e segurança de que Deus opera para o nosso bem hoje, “não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2Tm 1.9).

Uma resposta natural à obra de Deus em nosso favor é que devemos louvá-Lo e glorificá-Lo (Ef 1.12; 1Ts 1.2-4; 2.13). Entoar louvores a Deus pela salvação não deixa espaço para o louvor próprio, porque a salvação não é nossa obra, mas dom de Deus (Ef 2.8-9).

Todavia, essa verdade não deve nos levar a pensar que nosso trabalho de evangelização é sem importância! Quando Deus escolhe as pessoas para serem salvas, ele realiza isso mediante meios humanos. Paulo sabia que Deus escolheu algumas pessoas para serem salvas e viu isso como um estímulo — não motivo de desânimo — para pregar o evangelho, mesmo que isso significasse grande e duradouro sofrimento (2Tm 2.10).

O que isso não significa

A doutrina da eleição não significa que nossas escolhas não importam e nossas ações não têm consequências. A Escritura nos vê continuamente como criaturas pessoais que fazem escolhas voluntárias para aceitar ou rejeitar o evangelho (Ap 22.17). O convite é dirigido à pessoas verdadeiramente capazes de ouvir o convite e responder a ele mediante decisão pessoal.

Conquanto uma compreensão adequada da eleição dê valor real a nossas decisões e escolhas, isso não significa que a decisão de Deus foi baseada em nossas opções. Quando Deus escolheu os indivíduos “antes da fundação do mundo” (Ef 1.4), ele não o fez porque previu sua fé ou alguma decisão que fariam (Rm 8.29). Quando o apóstolo fala sobre a presciência de Deus, está pensando em Deus como conhecendo pessoas (“aqueles que”). Deus “antes conhece” esses indivíduos no contexto de uma relação de salvação com eles, o que é diferente de falar sobre conhecimento prévio das ações ou decisões de um indivíduo, como a escolha de crer. Na verdade, as Escrituras nunca falam de fé (presente ou futura) como a razão pela qual Deus escolheu alguém.

Se a eleição fosse, em última instância, baseada em nossa decisão, ela diminuiria a capacidade do amor de Deus, rebaixaria sua graça (pois haveria algum mérito de nossa parte) e reduziria a glória que lhe é devida por nossa salvação.

Estamos realmente livres?

A Bíblia apela centenas de vezes a nossa capacidade de fazer escolhas ou tomar decisões voluntárias. Não somos obrigados a fazer escolhas contrárias a nossa própria vontade. Definitivamente, fazemos o que desejamos fazer. Sermos criaturas volitivas é parte do que significa ser criado à imagem de Deus.

Mas isso significa que Deus não teve nada a ver com nossas escolhas? Na verdade, se Deus trabalha por meio de nossas escolhas e de nossos desejos para realizar seus planos, isso preserva nossa capacidade de escolher espontaneamente, ao mesmo tempo que garante que nossas escolhas estarão em harmonia com o que Deus decidiu e ordenou que aconteceria.

Portanto, se respondermos de forma positiva ao convite de Cristo, podemos honestamente dizer que escolhemos responder a ele, ao mesmo tempo que dizemos que isso foi (de maneira que não podemos entender completamente) ordenado por Deus. E se não pudermos entender completamente como essas duas coisas podem ser verdadeiras concomitantemente, então devemos reconhecer que aqui existe um mistério.

E quanto àqueles que não acreditam, a quem Deus não elegeu ou escolheu? A Bíblia nunca culpa a Deus pela rejeição que alguém faz aos reclamos de Cristo. A ênfase está sempre nas escolhas espontâneas daqueles que se recusam a crer; a culpa por sua a incredulidade recai sobre eles (Jo 5.40; 8.43-44; Rm 1.20). As pessoas que permanecem na incredulidade fazem isso porque não estão dispostas a vir a Deus, e a culpa por tal incredulidade sempre jaz com os próprios descrentes, e nunca com Deus. Novamente, precisamos aceitar um elemento de mistério aqui, reconhecendo que não somos capazes de compreender hoje como isso acontece.

Para estudos futuros

Bases da fé cristã: 20 fundamentos que todo cristão precisa entender, por Wayne GRUDEM (Ebook)

Teologia sistemática, por Wayne Grudem (Cópia física)


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