Em defesa do Natal: Evidência do Perfil - Jesus preenchia os atributos divinos?

Desde que a Scotland Yard transformou as lembranças de uma testemunha em um retrato falado de um suspeito de assassinato em 1889, os artistas forenses têm desempenhado um papel importante na aplicação da lei. Hoje, mais de trezentos retratistas trabalham com agências policiais dos EUA. Curiosamente, o conceito de desenho de um artista pode fornecer uma analogia rudimentar que pode nos ajudar em nossa busca pela verdade sobre a identidade da criança natalina.

O Antigo Testamento nos fornece vários detalhes sobre Deus, que descrevem em grande especificidade como ele é. Por exemplo, Deus é descrito como onipresente ou existente em todo lugar do universo; como onisciente, ou sabendo tudo o que pode ser conhecido por toda a eternidade; como onipotente ou todo-poderoso; como eterno, ou existindo além do tempo e sendo a fonte de todo o tempo; e imutável, ou sendo sempre o mesmo em seus atributos. Ele amoroso, santo, justo, sábio, reto.

Agora, Jesus afirma ser o Filho de Deus. Mas ele cumpre essas características da divindade? Em outras palavras, se examinarmos Jesus cuidadosamente, sua semelhança se aproxima do esboço de Deus que encontramos em outros lugares na Bíblia? Caso contrário, podemos concluir que a alegação de ser Deus é falsa.

Sobre o Entrevistado

D. A. Carson, professor e pesquisador do Novo Testamento na Trinity Evangelical Divinity School, escreveu ou editou mais de quarenta livros, incluindo The Sermon on the Mount (O Sermão da Montanha), Exegetical Fallacies (Falácias Exegéticas), The Gospel According to John (O Evangelho Segundo João) e seu premiado The Gagging of God (O Engasgo de Deus). Ele obteve seu doutorado no Novo Testamento na prestigiada Universidade de Cambridge e lecionou em outras três faculdades e seminários antes de ingressar na Trinity em 1978.

Perdoando como Deus

Embora os atos sobrenaturais de Jesus sejam um indicativo de sua divindade, não são decisivos, visto que outras pessoas também realizaram milagres. Das muitas coisas que Jesus fez, a mais impressionante é o perdão dos pecados.

Se alguém fizer algo contra você, você tem o direito de perdoá-lo. No entanto, se alguém faz algo contra você e outra pessoa chega e diz: “Eu lhe perdoo”, que coisa absurda é essa?

A única pessoa que poderia genuinamente dizer esse tipo de coisa é o próprio Deus, porque o pecado, ainda que seja cometido contra outras pessoas, é um desafio a Deus e às suas leis (Sl 51.4). Então vem Jesus e diz aos pecadores: “Os seus pecados estão perdoados”. Os judeus imediatamente reconhecem nisso uma blasfêmia, pois apenas Deus é capaz de perdoar pecados.

Jesus não apenas perdoava pecados, mas era ele mesmo sem pecados. As pessoas consideradas mais santas também foram as pessoas mais conscientes de seus fracassos e falhas. São pessoas verdadeiramente conscientes de seus pecados e os estão combatendo pela graça de Deus. Contudo, ninguém seria capaz de acusar Jesus de uma única falha.

O Mistério da Encarnação

Como Jesus poderia ser onipresente sem estar em dois lugares ao mesmo tempo? Como pode ser onisciente quando alega que nem ele mesmo sabia a data de seu retorno? Como ele pode ser onipotente quando vemos nos evangelhos o relato de que ele não pôde realizar muitos milagres em sua cidade natal?

Essas perguntas não têm respostas simples, pois elas atingem o cerne da encarnação, que é o propósito do natal – Deus se tornando homem, espírito assumindo carne, infinito entrando no finito, o eterno sendo limitado pelo tempo.

Uma das soluções propostas a essas questões é a doutrina conhecida como kenosis, termo grego que significa “esvaziar”. Esse termo ocorre em Filipenses 2, onde Paulo diz que “Jesus, que, mesmo existindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo que deveria ser retido a qualquer custo. Pelo contrário, ele se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos seres humanos” (Fp 2.6-7). Jesus se tornou um ninguém.

A rigor, Filipenses 2 não nos diz exatamente do que Jesus se esvaziou. O mais próximo seja que ele se esvaziou do uso independente de seus atributos, ou seja, se comportou como Deus quando seu Pai celestial lhe autorizou explicitamente a fazê-lo. Devemos ter em mente que estamos falando da encarnação, um dos mistérios centrais da fé cristã. Assim, parte da teologia cristã se preocupou não em 'explicar tudo', mas em tentar tirar as evidências bíblicas e, mantendo-as de maneira justa, encontrar maneiras de síntese que sejam racionalmente coerentes, mesmo que não sejam exaustivamente explicativas.

Criador ou Criado

Outro perfil ao qual Jesus tinha de se adequar é que Deus é um ser não-criado que existe desde a eternidade passada (cf. Is 57.15). Porém, existem alguns versículos que parecem sugerir fortemente que Jesus era um ser criado que passou a existir quando nasceu em Belém.

Em João 3.16 lemos que Jesus é o “Filho unigênito” de Deus, e Colossenses 1.15 refere-se a Jesus como “o primogênito de toda a criação”. Essas passagens não implicam claramente que ele foi criado, em vez de ser o criador de todas as coisas?

Começando por João 3.16. É a versão do rei Tiago que traduz o grego como “Filho primogênito”. Aqueles que a consideram a única versão correta vinculam isso à encarnação, ou seja, o parto da virgem Maria. No entanto, não é isso que a palavra em grego significa. Significa “incomparável”. No primeiro século era usada a expressão incomparável ou amado. João 3.16 está simplesmente dizendo que Jesus é o Filho incomparável ou amado, ou, como a NVI traduz, o “Filho único” – em vez de dizer que ele é ontologicamente gerado no tempo.

Agora, vejamos Colossenses 1.15. A maioria dos comentaristas, conservadores ou liberais, reconhece que no Antigo Testamento, o primogênito, por causa das leis de sucessão, recebia a maior parte da propriedade, ou se tornaria rei no caso de uma família real. O primogênito, portanto, é o único que possuía todos os direitos do pai.

No século II a.C., há lugares em que a palavra não tem mais o sentido de geração ou nascimento, mas carrega a ideia da autoridade que vem com a posição de ser o herdeiro legítimo. É nesse sentido que a palavra se aplica a Jesus, como a maioria dos os estudiosos admitem. À luz disso, uma tradução melhor seria “herdeiro supremo”.

Conclusão

Como a encarnação funciona – como o espírito adquire carne – permanece um conceito alucinante. Ainda assim, de acordo com a Bíblia, o fato de que ocorreu não está em dúvida. Todo os atributos de Deus são finalmente encontrados na criança de natal que cresceu para viver uma vida diferente de qualquer outra.

  • Onisciência (Jo 16.30).
  • Onipresença (Mt 18.20; 28.20).
  • Onipotência (Mt 28.18).
  • Eternidade (Jo 1.1).
  • Imutabilidade (Hb 13.8).

Para estudos futuros:

Em defesa de Cristo, Por Lee Strobel (Ebook)


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