Em Defesa do Natal - Evidência do Testemunho Ocular: Podemos Confiar nas Biografias Sobre Jesus?
O testemunho ocular é poderoso. Um dos momentos mais dramáticos de um julgamento é quando uma testemunha descreve o crime que viu e depois aponta com confiança para o réu como o autor. Um testemunho pode ser confiável e convincente. Quando uma testemunha teve ampla oportunidade de observar um crime, quando não há viés ou segundas intenções, quando a testemunha é verdadeira e justa, o ato climático de apontar um réu em um tribunal pode ser suficiente para condená-lo à prisão ou algo pior. E o testemunho ocular é tão crucial na investigação de assuntos históricos - até a questão de saber se a manjedoura de Natal realmente continha o único Filho de Deus.
Mas que relatos de testemunhas oculares possuímos? Temos o testemunho de alguém que interagiu pessoalmente com Jesus, que ouviu seus ensinamentos, viu seus milagres, testemunhou sua morte e o encontrou depois de sua suposta ressurreição? Temos algum registro de “jornalistas” do primeiro século que entrevistaram testemunhas oculares, fizeram perguntas difíceis e registraram fielmente o que escrupulosamente determinaram ser verdade?
Para obter respostas sólidas a essas perguntas, Lee Strobel entrevistou um estudioso que literalmente escreveu o livro sobre o assunto: Dr. Craig Blomberg, autor de A Confiabilidade Histórica dos Evangelhos.
Sobre o Entrevistado
Craig Blomberg é amplamente considerado uma das principais autoridades do país nas biografias de Jesus, chamadas de quatro evangelhos. Ele recebeu seu doutorado em Novo Testamento pela Universidade de Aberdeen, na Escócia, e depois serviu como pesquisador sênior da Tyndale House na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, onde fez parte de um grupo de elite de estudiosos internacionais que produziu uma série de obras aclamadas sobre Jesus.
A Autoria dos Evangelhos
Estritamente falando, os evangelhos são obras anônimas. Contudo, o testemunho uniforme na igreja primitiva foi de que Mateus, também chamado Levi, cobrador de impostos e um dos 12 discípulos foi o autor do primeiro evangelho; que João Marcos, companheiro de Pedro, foi o autor do evangelho que chamamos de Marcos; e que Lucas, conhecido como o médico amado de Paulo, escreveu o evangelho de Lucas e também os Atos dos Apóstolos.
Notemos que esses nomes não tinham proeminência. Marcos e Lucas sequer faziam parte dos 12 e Mateus era um cobrador de impostos, o que o tornava uma persona non grata na sociedade. Quando os evangelhos apócrifos surgiram, pessoas mais conhecidas e exemplares foram escolhidas como seus autores fictícios – Pedro, Filipe, Maria, Tiago. Esses nomes tinham muito mais peso do que Mateus, Marcos e Lucas. Não haveria razão para atribuir esses nomes à autoria dos evangelhos, se não fosse verdade.
João seria a única exceção e seu evangelho é o único em que há uma disputa de autoria. A disputa não seria no nome do autor, mas se foi o apóstolo ou um João diferente. O fragmento do escrito de um autor chamado Papias, datado de 125 d.C., refere-se ao apóstolo João e ao ancião João e não está claro se ele está se referindo a uma pessoa a partir de duas perspectivas ou a duas pessoas diferentes. Com exceção a isso, o restante do testemunho é unânime de que foi João, o apóstolo, filho de Zebedeu, quem escreveu o evangelho de João. De qualquer forma, o evangelho é uma obra baseada em material de uma testemunha ocular, assim como os outros 3.
Evidências da Autoria
O testemunho de Papias é o testemunho mais antigo que temos sobre a autoria dos evangelhos, que em cerca de 125 d.C. afirmou especificamente que Marcos havia registrado com cuidado e precisão as observações do testemunho ocular de Pedro. Então temos Ireneu, escrevendo por volta de 180 a.C., que confirmou a autoria tradicional:
Assim, Mateus publicou entre os judeus, na língua deles, o escrito dos Evangelhos, quando Pedro e Paulo evangelizavam em Roma e aí fundavam a Igreja. Depois da morte deles, também Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, nos transmitiu por escrito o que Pedro anunciava. Por sua parte, Lucas, o companheiro de Paulo, punha num livro o Evangelho pregado por ele. E depois, João, o discípulo do Senhor, aquele que recostara a cabeça ao peito dele, também publicou o seu Evangelho, quando morava em Éfeso, na Ásia.
Ireneu, Adversus haereses 3.3.4.
Se podemos confiar que os 4 evangelhos foram escritos pelos discípulos Mateus e João, por Marcos, o companheiro do discípulo Pedro, e por Lucas, companheiro de Paulo, podemos ter certeza que os eventos que eles registram baseiam-se em testemunhos diretos ou indiretos de testemunhas oculares.
Biografias Antigas vs. Modernas
Os evangelhos possuem um estilo diferente daquele que estamos acostumados em obras biográficas. Ao escrever uma biografia, o biógrafo mergulha profundamente na vida da pessoa. No entanto, não vemos isso nos evangelhos. Marcos, por exemplo, não fala nada a respeito do nascimento de jesus. Em vez disso, ele se concentra nos 3 últimos anos e gasta metade de seu evangelho nos eventos que culminaram na última semana de Jesus.
Há duas razões para isso. Uma literária e outra teológica. A razão literária é que é dessa forma que as biografias eram escritas no mundo antigo. Os escritores não consideravam importante dar igual proporção a todos os eventos da vida de uma pessoa ou que era necessário contar os eventos em ordem estritamente cronológica ou citar literalmente as palavras de alguém, desde que a essência do que eles disseram fosse preservada. O único objetivo para o qual eles acreditava que a história valia a pena ser registrada é porque havia algumas lições a serem aprendidas com os personagens descritos. Por isso, o biógrafo focava nas partes da vida da pessoa que eram exemplares, ilustrativas, que poderiam ajudar outras pessoas, que davam sentido a um período da história.
A razão teológica é que, por mais maravilhosos que a vida, os ensinamentos e os milagres de Jesus sejam, eles não teriam sentido se não fosse historicamente factual que Jesus morreu e ressuscitou dentre os mortos proporcionando perdão e expiação dos pecados da humanidade. Assim, Marcos, como autor do que seria provavelmente o evangelho mais antigo, dedicou praticamente metade da sua narrativa nos eventos da semana que culminou com a morte e a ressurreição de Jesus.
Data da Escrita dos Evangelhos
Alguns estudiosos alegam que os evangelhos foram escritos muito depois dos eventos descritos, de modo que as lendas se desenvolveram e distorceram o que foi escrito, transformando Jesus de um mero professor no mitológico filho de Deus. Porém, podemos sugerir datas mais recentes para a escrita dos evangelhos. Tomando como base o livro dos Atos dos Apóstolos, que foi escrito por Lucas, vemos que ele termina aparentemente não concluído. Paulo é uma figura central no livro e está em prisão domiciliar em Roma. Com isso, o livro para abruptamente. O que aconteceu com Paulo? Não obtemos a resposta em Atos. Provavelmente porque o livro foi escrito antes da morte de Paulo; o que significa que Atos não pode ser datado depois de 62 d.C.
Como sabemos que Atos é a segunda de uma obra de duas partes, a primeira parte – o evangelho de Lucas – deve ter sido escrita antes disso. E como sabemos que Lucas incorpora material de Marcos, isso significa que Marcos foi escrito ainda mais cedo.
Se permitirmos talvez 1 ano de diferença para cada um deles, terminamos com Marcos escrito o mais tardar cerca de 60 d.C., talvez até o final dos anos 50. Se Jesus foi morto em 30 ou 33 d.C., estamos falando de um intervalo de no máximo 30 anos ou mais.
Mesmo no meio acadêmico liberal, as datas estabelecidas para a escrita dos evangelhos não são muito distantes dos eventos registrados – Marcos no ano 70, Mateus e Lucas no ano 80, e João no ano 90. Porém, isso ainda é durante a vida de muitas testemunhas oculares da vida de Jesus, inclusive testemunhas oculares hostis que teriam prazer em corrigir falsos ensinamentos da vida de Jesus que estivessem circulando por aí.
As duas primeiras biografias de Alexandre, o Grande, foram escritas por Ariano e Plutarco mais de 400 anos após sua morte em 323 a.C., mas os historiadores geralmente consideram que elas são confiáveis. O material lendário a respeito da vida de Alexandre se desenvolveu nos séculos que se seguiram a esses dois autores. Em outras palavras, os primeiros 500 anos mantiveram a história de Alexandre praticamente intacta. Por tanto, quer os evangelhos tenham sido escritos 60 ou 30 anos após a vida de Jesus, a quantidade de tempo em comparação com Alexandre é insignificante.
Voltando ao Início
livros do Novo Testamento não estão em ordem cronológica. Os evangelhos foram escritos logo após quase todas as cartas de Paulo – cujo ministério de escrita teve início no final dos anos 40 - terem sido concluídas. A maior parte de suas cartas principais apareceu nos anos 50. Para encontrar as informações mais antigas, alguém vai às cartas de Paulo e pergunta se existem sinais de que fontes mais antigas foram usadas para escrevê-las.
O que descobrimos é que Paulo incorporou alguns credos, confissões de fé e hinos da igreja cristã primitiva. Eles remontam ao alvorecer da igreja logo após a ressurreição de Jesus.
Os credos mais famosos incluem Filipenses 2.6-11 e Colossenses 1.15-20. Porém, talvez o credo mais importante acerca do Jesus histórico seja 1Coríntios 15, onde Paulo utiliza linguagem técnica para indicar que estava transmitindo uma tradição oral de forma fiel.
Antes de tudo, entreguei a vocês o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu a Cefas e, depois, aos doze. Depois, foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria ainda vive; porém alguns já dormem. Depois, foi visto por Tiago e, mais tarde, por todos os apóstolos.
1Coríntios 15.3-7.
Se a crucificação ocorreu em 30 d.C., a conversão de Paulo ocorreu por volta de 32 d.C. Imediatamente Paulo foi conduzido a Damasco, onde se encontrou com um cristão chamado Ananias e alguns outros discípulos. Seu primeiro encontro com os apóstolos em Jerusalém teria acontecido por volta de 35 d.C. Em algum momento, Paulo recebeu esse credo, que já havia sido formulado e estava sendo utilizado na igreja primitiva.
Conclusão
Podemos argumentar que a crença na ressurreição, embora ainda não esteja escrita, pode ser datada dentro de 2 anos desse mesmo evento. Isso tira o fôlego da acusação de que a ressurreição era apenas um conceito mitológico que se desenvolveu por longos períodos de tempo, enquanto lendas corrompiam os relatos das testemunhas oculares da vida de Cristo. Podemos crer na confiabilidade dos relatos dos evangelhos, inclusive na história de Natal.
Para estudos futuros:
Em defesa de Cristo, Por Lee Strobel (Ebook)
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