Hebraico Bíblico: A Identidade da Língua Hebraica

Desde antes de começar a estudar teologia, eu sempre tive vontade de aprender as línguas originais da Bíblia, a saber, o hebraico, o aramaico e o grego. Contudo, não levava esse desejo adiante porque achava que seria impossível, pois tenho uma doença degenerativa na minha retina que já levou a maior parte da minha visão.

No entanto, com ajuda de uma tecnologia assistiva e de bons materiais aos quais tive acesso, hoje consigo estudar os idiomas bíblicos de forma autodidata. E, embora eu esteja muito longe de ser um profissional no assunto, decidi compartilhar a partir de agora aqui no blog o que tenho aprendido.

Começarei com o hebraico por ser o idioma bíblico em que estou mais avançado. Iniciei no grego há apenas duas semanas desta publicação, então ainda não tenho o que passar.

Infelizmente, não consegui encontrar nenhuma gramática do hebraico publicada digitalmente em português. A gramática que usarei como base para os artigos está em inglês. Contudo, no final dos artigos estarão os links para você adquirir livros físicos para se aprofundar nos assuntos abordados. Nunca tive o prazer de consultá-las, mas são obras de uma editora muito confiável, então vale a pena o investimento. Espero que um dia a editora publique essas obras no formato ebook para que eu possa adquiri-las e usufruir delas também.

Segue agora uma pequena introdução à língua hebraica e o porquê estudá-la, e a partir do próximo artigo entraremos nas questões gramaticais. Desejo de coração que o conteúdo publicado ajude vocês e desperte o desejo de aprender os idiomas em que a Bíblia foi originalmente escrita. Que Deus abençoe nossos estudos.

Objetivos para o estudo do hebraico bíblico

  • Adquirir um conhecimento prático da gramática hebraica bíblica.
  • Obter uma compreensão prática dos processos de pensamento gramatical em hebraico bíblico. Não é possível para o professor ou aluno moderno entender completamente como os escritores originais pensavam quando escreveram, mas é desejável chegar o mais próximo possível desse entendimento.
  • Aumentar o interesse e a apreciação pelo AT e pelos idiomas em que foi escrito.
  • Experimentar como o hebraico, juntamente com os objetivos anteriores, pode ajudar no amadurecimento espiritual e no ministério.
  • Ser capaz de ler em voz alta o hebraico de qualquer passagem do AT.
  • Ser capaz de traduzir frases simples do AT hebraico.

A Importância do Estudo do Hebraico Bíblico

O AT foi escrito em duas línguas: hebraico e aramaico. O hebraico é a língua principal na qual a maior parte do AT foi escrito. As partes que foram escritas em aramaico incluem um nome do lugar em Gênesis 31.47, um versículo em Jeremias (10.11) e seções de Daniel (2.4-7.28) e Esdras (4.8-6.18; 7.12-26).

O hebraico é o idioma que Deus empregou para comunicar Sua mensagem ao Seu povo. Para o estudante das Escrituras, o conhecimento do hebraico é um recurso valioso para a compreensão correta do AT.

Além de um entendimento adequado do AT, um conhecimento do hebraico ajuda na compreensão do NT. Grande parte do NT é baseada no AT. As citações e alusões do AT no NT precisam ser entendidas em seu contexto original antes que o intérprete possa entender seu uso pelos escritores do NT.

O conhecimento do hebraico bíblico é uma proteção contra erros teológicos. A autoridade final para fé e prática é a Palavra de Deus escrita. No entanto, o crente precisa interpretar essa Palavra para aplicá-la. Nesse processo interpretativo, o tribunal de apelação final nas disputas sobre interpretação reside nos idiomas originais das Escrituras.

Segundo o rabino polonês, Haim Nacham Bialik, “Ler a Bíblia na tradução é como beijar sua noiva através do véu”. O estudante da Escritura deve tentar se aproximar o máximo possível das fontes originais, para não depender dos outros para que o texto diz ou significa. Em outras palavras, “para o ministro, o conhecimento do hebraico é necessário porque abre a única janela interpretativa verdadeiramente confiável sobre o texto do Antigo Testamento”.

O estudante deve considerar em espírito de oração as seguintes palavras do grande reformador, Martinho Lutero:

Embora a fé e o Evangelho possam ser proclamados por simples pregadores sem as línguas, essa pregação é chata e mansa, os homens finalmente se cansam e ficam desgostosos e ela cai no chão. Mas quando o pregador é versado nas línguas, seu discurso tem frescor e força, toda a Escritura é tratada, e a fé se vê constantemente renovada por uma variedade contínua de palavras e obras.

É um pecado e vergonha não conhecermos o nosso próprio livro ou não entendermos o discurso e as palavras do nosso Deus; é um pecado e perda ainda maior o fato de não estudarmos as línguas, especialmente nos dias em que Deus está oferecendo e nos dando homens e livros e todas as facilidades e incentivos para esse estudo, e deseja que sua Bíblia seja um livro aberto.

O que é o Hebraico?

O hebraico é um membro da família semítica1 de aproximadamente 70 idiomas. Os idiomas semíticos são encontrados em uma zona geográfica que inclui a Palestina, a Mesopotâmia, a Península Arábica e a Etiópia. O hebraico pertence ao ramo noroeste dos idiomas semíticos. Embora exista algum debate sobre as características comuns aos membros da família dos idiomas semíticos, a maioria dos estudiosos geralmente identifica o seguinte a respeito do ramo noroeste:

  • Um sistema radical morfológico de três letras (triliteral) domina a formação da palavra.
  • Um waw inicial (= ו) muda para um yod (= י) como a primeira letra da raiz, especialmente na formação de verbos.
  • Um nun não vocalizado (= נ) é completamente assimilado à consoante seguinte.
  • Existem evidências para três terminações básicas de casos: uma vogal classe u como final do nominativo, uma vogal classe i como final do genitivo e uma vogal classe a para o final do acusativo.
  • A desinência feminina – em formas substantivas remove o ת no estado absoluto, mas o mantém no estado construto.

A Tabela dos Idiomas Semíticos

O ramo noroeste dos idiomas semíticos é apenas um dos três ramos principais (noroeste, sudoeste e leste). A seguir, são identificados os principais idiomas semíticos:

Hebraico

O hebraico está intimamente relacionado com o fenício e com o ugarítico.

O povo de Israel falava hebraico até o exílio na Babilônia, quando começou a ser substituído pelo aramaico (cf. Neemias 8 e 13). No final do primeiro século d.C., o aramaico, e não o hebraico, era a língua mais falada em Israel. O hebraico foi originalmente escrito na antigo escrita fenícia. Um resultado do cativeiro babilônico e da transição para o aramaico foi que os escritores do hebraico tomaram emprestado a escrita quadrática aramaica para escrever hebraico. Falantes e escritores do hebraico ainda empregam a mesma escrita hoje. É comum referir-se a ela como escrita judaica.

Em 1948, o recém-estabelecido estado de Israel reviveu o hebraico como idioma nacional. As principais fases do idioma hebraico são:

  • Hebraico bíblico ou clássico (HB)
  • Hebraico rabínico ou mishnáico (HR)
  • Hebraico Moderno (HM)

Acadiano

Acadiano é o nome comum para os antigos dialetos assírios e babilônicos. Também era o nome original para esta língua mesopotâmica inicial. O Acadiano foi substituído pelo aramaico c. Século X a.C. A Acádia era a principal cidade do início do império semita na Mesopotâmia, c. 2300 a.C. (cf. Gn 10.10).

Aramaico

O aramaico foi a língua oficial do Oriente Próximo a partir do século 10 a.C. em diante. O aramaico substituiu totalmente o hebraico na Palestina pro volta de 70 d.C., embora o processo tenha começado um milênio antes. Os rabinos escreveram grande parte do Talmude (escritos rabínicos) em aramaico. Vários estudiosos judeus completaram traduções aramaicas da Bíblia (chamadas Targums) no século VI d.C. O árabe substituiu o aramaico c. Século VII d.C.

Etíope

O etíope parece existir desde aproximadamente o século IV d.C. O amárico, um etíope modificado e o principal idioma da Etiópia hoje, tornou-se o idioma da corte aproximadamente no Século XIII d.C., mas o etíope ainda foi o idioma teológico por muitos séculos.

Árabe

O árabe é o idioma de toda a Arábia e as evidências indicam sua existência desde aproximadamente o Século VIII a.C. O árabe é a língua oficial do Islã e do Alcorão.


Das cinco línguas antigas listadas acima, apenas o hebraico e o árabe são falados hoje.

Notas

1. O termo semítico deriva do nome de Sem, filho de Noé, por causa das semelhanças identificáveis entre as línguas faladas por certos ramos genealógicos de seus descendentes (cf. Gn 10.21-31).

Livros para Estudo

Hebraico Bíblico – Uma Gramática Introdutória, de Page Kelley.

Introdução ao Hebraico Bíblico, de Mark Futato

Gramática Instrumental do Hebraico, de Antônio Renato Gusso


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